Comida de mãe, para muita gente, é o melhor alimento do mundo. Embora tenha um grande número de mães chefs, churrasqueiras e cozinheiras profissionais, estamos falando daquela comidinha caseira, muitas vezes simples, inesquecível e insubstituível, que nos conforta e nos acolhe. Alimento que resgata nossas memórias mais íntimas, causando dessa forma, emoção ao simples cheiro.
Nosso primeiro alimento, o leite materno, gera uma conexão entre dois seres carregados de significados, de amor, de cumplicidade. Um momento em que os olhares se cruzam e mãe e filho se tornam apenas um. Dessa forma, a continuidade acontece, muitas vezes, através da preparação dos alimentos. É a mãe quem escolhe as primeiras comidas que nos conectam à vida. Assim, buscamos ouvir a história de algumas mães, que nos contam sobre essa conexão, essa magia que acontece entre mãe e filho, os seus desafios pessoais, porque a arte de amar vem dela.
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Ser mãe é ter emoção diária
Larissa Barbosa, 32 anos, chef de cozinha, conta que depois que se tornou mãe, tudo na sua vida mudou. E para melhor. “Meu filho tem 5 anos, e já passamos por muita coisa”, afirma ela “mas a emoção diária é quando ele acorda e vem com um sorriso, dizendo que me ama. Todo o peso da responsabilidade se transforma em amor. Eu me derreto”, pontua.
A chef conta que veio do Nordeste para o Rio de Janeiro ainda adolescente, para passar um tempo com a sua tia. Com ela, conseguiu trabalho e acabou ficando mais tempo do que planejara. Depois, conheceu Felipe, o pai do seu filho, e quando a tia se mudou do Rio para São Paulo, ela ficou com o namorado. O casamento, pouco depois, entrou em crise, mas acabaram se entendendo.
A felicidade encheu nossa casa, mas não durou
“Sempre sonhei ser mãe, então quando me reconciliei com meu marido vi que era a hora de realizar esse antigo desejo”. Ela conta que não foi difícil engravidar, e comemoraram muito quando isso aconteceu. “A felicidade encheu a nossa casa, e percebi que havia nascido para ser mãe”, explica.
Quando Larissa completou o sétimo mês de gravidez, seu casamento chegou ao fim novamente. Além da separação, veio a crise financeira, e ela passou um período tão difícil que achou que não fosse suportar. “Me senti a pior das pessoas, mas aquela vida que crescia em mim me deu forças para continuar. Assim, cheguei ao final da gravidez. E quando o meu filho estava com 18 dias, eu fui embora para o Nordeste, para a minha família”, conta. Contudo, foi a família quem a acolheu e ajudou a chef a atravessar essa fase difícil.
Somos só nós dois
“Minha maior dificuldade hoje é criar o Antônio sozinha, sem uma identidade masculina, sem o pai por perto”, explica ela. Segundo Larissa, Felipe, pai do seu filho, faleceu em setembro de 2020, de forma inesperada. “Ele sempre foi presente, mesmo à distância, em ligações, chamadas de vídeo. Agora somos nós dois: o Antônio e eu, e isso me assusta um pouco”, afirma.
Hoje Larissa é dona do próprio negócio, tem uma equipe, em parceria com outro chef, e além da hamburgueria que surgiu em meio à pandemia e atende delivery, ela faz consultoria, promove cursos e eventos. “Trabalhamos com muitos eventos de churrasco, fogo de chão, e o meu filho está sempre comigo, é a alegria na minha vida”, finaliza.
Filhos são para o mundo, mas…
“Uma forma de suprir a ausência dos meus filhos foi mudar de profissão”, afirma Fabia Raquel Ferreira, 58 anos, empresária. Para ela, que é mãe de três filhos (Anna, Guilherme e Alexandre), o momento mais difícil foi quando eles foram saindo de casa para viver a própria vida. A saudade se tornou sua companheira constante.
“A gente sabe que os filhos são para o mundo, mas o coração fica apertado, sempre falta alguma coisa”, conta.
Para ela, é importante aproveitar a fase em que eles estão em casa, sem perder os próprios sonhos, para que a síndrome do ninho vazio não seja tão difícil.
Do cuidado com os filhos para o cuidado com os hóspedes
Fabia nasceu em Goiás, mas foi para o Rio com 18 anos. Sua formação acadêmica foi na área de tecnologia, segmento que trabalhou durante quase 30 anos, assim, quando os filhos cresceram e saíram de casa, ela resolveu voltar para o ambiente rural. Em 2017 adquiriu uma fazenda em Queluz, interior de São Paulo, e de lá para cá tudo se transformou.
Hoje Fabia trabalha na fazenda, com um formato diferente de hospedagem. Ela recebe os hóspedes como amigos, e eles participam do dia a dia do lugar, uma experiência autêntica da cultura regional, ou seja, uma vivência integrada à natureza.
“Comecei a rever toda a minha estratégia profissional. Hoje me dedico aos hóspedes, cuidando de cada detalhe para que a estadia deles seja única e que possam desfrutar de uma gastronomia repleta de ingredientes, histórias e saberes locais”, afirma.
Sempre uma mesa pronta para os meus filhos
Fabia conta que a maternidade não a transformou enquanto caráter, personalidade ou sua essência, mas ser mãe potencializou suas melhores características, as habilidades de se relacionar com o outro, de cuidar, de se dedicar e de amar de forma incondicional.
“Se eu paro no meio do dia, ainda ouço o som das conversas animadas ao redor da mesa, quando estávamos todos juntos durante o almoço”, afirma. Cada um deles contava um pouco do seu cotidiano, trocavam informações, Fabia dava conselhos. “Às vezes falávamos ao mesmo tempo, e era preciso um tom mais alto, para ser ouvido. Havia discussões também, mas até disso eu sinto falta”, pontua.
Hoje os três filhos estão morando em locais diferentes e esta é uma das coisas que a internet não consegue substituir. “O cheiro da comida e o sabor que marcaram tantos momentos só vamos ter pessoalmente. Mas na, Fazenda Santa Vitória onde moro é o local onde os meus filhos terão sempre uma mesa pronta para uma reunião da família”, finaliza ela.
Ser mãe foi um presente
Para Priscila Medina Rios Fávero, 36 anos, funcionária pública, se tornar mãe foi um presente. Ela havia se habilitado para adotar uma criança, e estava aguardando. Fazia planos de ter um ensaio fotográfico antes do filho ou a filha chegar, mas não era como uma gravidez normal, ela não sabia se demoraria um ano, dois ou três. Não havia uma data definida.
“O processo de adoção foi rápido. Demos entrada na habilitação em fevereiro de 2018, e em novembro eles chegaram”, conta ela emocionada. Segundo Priscila, algumas coisas dificultam o processo de adoção. No caso dela, o perfil era aberto, ela queria uma criança de 0 a 5 anos, não se importava se era menino ou menina, a cor da pele, se da capital ou do interior, e até mesmo fora do Estado. Isso fez com que as coisas acontecessem de forma mais rápida.
Fortes emoções
“Eu estava a noite em casa e senti algo que não tinha como explicar, mas tive a certeza de que alguma coisa boa ia acontecer”, conta ela, emocionada. Vinha de um período de fortes emoções. Num final de semana perdeu a avó materna, no outro teve outra perda, dessa vez a avó paterna. Estava tudo muito difícil naqueles dias. Logo em seguida foi seu aniversário e o telefone tocou.
“O meu coração acelerou. o Arthur, de 6 meses, estava me esperando. Eu, que estava ainda pensando no ensaio fotográfico, não tive tempo para nada, assim corri para conhecer o meu pequeno”, conta ela.
Lá ficou sabendo do irmão do Arthur, Cauã, de 2 anos e 3 meses, que ainda estava com a família biológica. Caso Priscila quisesse, assim que o Cauã fosse para o abrigo, poderia ser levado para sua casa, seria seu segundo filho. O coração deu saltos. “Claro que eu aceitei!”. O único problema é que poderia ser rápido, demorar, ou nunca acontecer.
Presente em dose dupla
“Quando cheguei no Fórum para buscar o Arthur, me informaram que o Cauã já estaria comigo em dois dias. Foi uma emoção dupla“, afirma. A partir daí foi só alegria, tudo foi se encaixando. Por fim, na terça ela buscou o Arthur e na sexta já estava também com o irmão, Cauã.
Foi bastante corrido organizar a casa, comprar o básico para os meninos e ainda estar inteira para recebê-los. “Eu sabia o que precisava comprar, mas não conseguia me decidir, sabe quando você fica assustada e feliz ao mesmo tempo? Mas recebi ajuda de muita gente, amigos, parentes e até pessoas que eu nem conhecia”.
Os meninos vieram para casa e para Priscila, o sonho de ser mãe se realizou, mas o desafio estava só começando. Foi aprendendo a rotina como toda mãe, no dia a dia do convívio com os filhos. No desespero do febrão que às vezes uma criança tem da noite para o dia, sem aviso prévio. Na alegria de ver o primeiro dentinho, de acompanhar o primeiro passo, ou mesmo as primeiras frases formadas ao acaso, quando o filho está aprendendo a ler. Nas histórias contadas a noite para dormir, assim como, na alimentação ao redor da mesa, onde um pega o bolinho do prato do outro, e ele reclama para a mãe. Ela sorri e olha para a vida que tem, agradecendo pela nova rotina, e pelas crianças, que foram o seu maior presente.
A comida é o nosso elo de ligação
“É na união da família em volta da mesa que passamos os melhores momentos do nosso dia. Conversamos, eles contam algo da escola ou simplesmente me ouvem falar sem parar. A gente ri, conta piada”, explica. “Essa conexão que acontece todos os dias, durante as refeições, nos fortalece como família e sei que estou preparando dessa forma os meus filhos para o mundo”.
Ela conta que está passando para os seus filhos todos os valores que herdou dos antepassados. “E com isso, estou construindo uma nova história para nós todos“, finaliza.
E você, tem alguma história interessante do seu filho? Conte para a gente nos comentários.