Em todo lugar o churrasco é conhecido como prática masculina e as mulheres participam de forma secundária, como coadjuvante. Mas Luciana Backi – assadora – viu a chance de se tornar protagonista nesse universo.
Ainda cursando a faculdade de engenharia mecânica, a assadora que se preparava para cuidar de seu segundo filho decidiu que era hora de mudar. Após um ano de desandar a maionese, como se refere Luciana à sua quebra de padrão ao qual a mulher faz a maionese e o homem assa a carne, encontrou no churrasco uma forma de ganhar dinheiro.
“A mulher que fica por trás dos bastidores do churrasco sempre, e o homem é que faz o churrasco.”
Conta Luciana Backi ao mencionar sua trajetória e de como quebrou esse estereótipo.
A paixão da assadora pelo churrasco só cresceu
Após cursos e estudos sobre a área, Luciana buscou colocar sua essência e dedicação em cada detalhe, tanto que voltar para engenharia mecânica não se tornou mais uma opção, e hoje, para ela, o churrasco é mais que ofício, “eu comecei a me aperfeiçoar, a fazer workshops e inclusive um deles foi com o Jimmy Ogro, que foi o cara que mais me deu uma mão no início para alavancar na profissão” conta.
Mas o contato com a culinária vem desde cedo assistindo e participando da cozinha junto com as mulheres da família, “eu estava habituada a ver minha mãe e minha avó cozinhar. Minha mãe trabalhava fora e eu era responsável em cozinhar e cuidar dos meus irmãos menores” expõe.
Mesmo sem formação gastronômica Luciana carrega o apreço pela culinária e ressalta:
“Sempre gostei de cozinhar, sempre fiz a comida em casa. E isso virou minha profissão.”
A gaúcha traz toda a sua cultura e tradição para a cozinha com pratos rústicos, tendo em vista que a maioria dos alimentos preparados na região são feitos em grelhas.
“É uma culinária que está mais próxima do churrasco por ser feito na brasa e às vezes no improviso” explica Luciana.
Transformar o que tem na geladeira no melhor alimento sempre funcionou aqui em casa, diz assadora
É assim que a assadora Luciana faz em casa, com conceitos decididos ao que cerceia a gastronomia sustentável, ela acredita que “as pessoas estão tomando uma consciência maior a respeito do desperdício, inclusive nos próprios eventos, o preparo e os acompanhamentos estão mudando um pouco. Nas edições de churrasco sempre usamos até os restos de ossos para fazer caldo e colocar no arroz, algo do tipo. Quando sobra comida sempre dividimos entre o pessoal.” revela.
Em sua casa há o aproveitamento quase que total dos alimentos. “Só vai para o lixo o que realmente não tem como ocupar” conta. Os talos e folhas que seriam descartados se transformam em tempurá e o que não tem proveito vai para composteira. As cascas dos ovos são colocadas para secar, e até as abóboras, Luciana ocupa as cascas e sementes.
“Eu acho que está invertendo, primeiro viemos do ‘bum’ dos industrializados e a supervalorização disso, e agora estamos voltando ao que era anteriormente no tempo de nossos avós e valorizar outras formas de enxergar os alimentos.”
O improviso e a essência de se refazer vem de família, já que desde muito cedo a assadora via sua mãe transformar poucos ingredientes em uma comida saborosa. Era o fascínio da filha ver o modo como seu mãe “fazia milagres” e sempre aproveitava tudo da melhor maneira. “Podia ter cebola e água, ela conseguia fazer o melhor creme da vida.” relembra.
Bem como a relação com suas ferramentas de trabalho, já que Luciana lida com diversos tipos de alimentos, precisa sempre estar afiada. “Depois da proteína umas das coisas mais essenciais é ter uma boa faca, é necessário ter uma funcionalidade, até mesmo para evitar desperdício.” diz.
Seu contato com as facas da Imperial foi através do Jimmy e do Panhoca. Ela explica que a anatomia, o encaixe da mão e leveza é o que mais gosta. “Ainda mais para quem trabalha com muita proteína”. Para Luciana a Faca é o principal instrumento do churrasco.
O SABOR DO LEGUME ASSADO
Quem é assador assa de tudo e para Backi essa história não é diferente. Questionada sobre seus experimentos na cozinha e dos gostos que já se surpreendeu, sem dúvida para ela a transição de sabores que os legumes passam, que dificilmente assamos, é surpreendente.
“Beterraba, abóbora e cenoura são alimentos que a maioria das pessoas estão habituados a comer cru ou cozido. Esse sabor é que agrega a brasa e o assado nos legumes.” explica.
ALQUIMIA DO CHURRASCO
Assar um porco inteiro em um fogo de chão pode parecer uma prática comum de quem prepara um churrasco, mas para Luciana todo o preparo requer um ritual com o alimento proposto.
“Se tu está se propondo a fazer com que as pessoas tenham uma experiência gastronômica com o que vai cozinhar, é imprescindível ter uma essência bem legal e uma energia bem boa”
Para ela cozinhar tem relação direta com a natureza e expõe que quando não está bem a comida nunca sai como esperado.
Sua especialidade é assar cordeiro no estilo fogo de chão e o ingrediente principal que não pode faltar para o preparo é a folha de louro. “Me acostumei a temperar o cordeiro com louro e a ‘benzer’ a carne com os ramos de louros.” explica.
A alquimia e o silêncio na beira do fogo enquanto esperam a carne ficar no ponto é o lugar de reflexão e onde Luciana se refaz. É seu momento de organizar os pensamentos, absorver dos quatro sentidos, em especial o olfativo, todas as energias que pairam o ambiente. Tudo em um perfeito equilíbrio e respeito com a proteína, visto que se assa o bicho inteiro, “é um gratidão pelo alimento proposto.” conta.
E para quem ficou curioso sobre os pratos da assadora, ela deixou uma receita deliciosa de Flat Iron e legumes assados por aqui! Clique aqui e veja detalhes da receita!
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